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- Boa
tarde, sou Alfrosino, famoso delegado desta pacata cidade do interior.
- Boa
tarde, senhor delegado, a que devo sua visita? – indagou o homem magro, calvo e
bem marcado pelas linhas do tempo.
- Sou o
delegado escolhido para investigar e solucionar o caso da morte de ontem pela
manhã defronte à porta do seu quarto, caro Astolfo.
- O que
quer saber?
-
Primeiramente seu nome completo, idade e profissão. – perguntou o delegado.
- Astolfo
da Juventude Assustada, 54 anos, detetive particular aposentado a seu dispor.
-
Conte-me, com detalhes o que presenciou, por gentileza.
- Acordei
assustado por volta das cinco horas da manhã. Assim que abri com muita
dificuldade meus olhos, consultei meu relógio de bolso (herdado de meu avô
paterno) que estava próximo à cabeceira da minha cama.
O
delegado anotava tudo em uma caderneta, com folhas amarelas pelo
tempo, parecida com aquelas usadas nos armazéns de antigamente, as quais
marcavam contas vendidas “fiado”.
-
Prossiga, senhor Astolfo.
-
Levantei-me devagar por causa de problemas de saúde, fui ao banheiro
escorando-me nas paredes, afinal estava tonto. Escovei meus dentes, lavei o
rosto com o sabonete indicado por minha dermatologista.
- O que
mais? pediu o delegado.
- Ouvi a
campainha da porta soar de modo ensurdecedor. No desespero, peguei uma
toalha fétida que estava no banheiro do hotel, enxuguei minha face à
pressas, saí do banheiro e caminhei arisco até à porta.
- E, seja
mais objetivo, senhor. – disse o delegado.
- Mais
uma vez, aquela maldita fechadura emperrou, mas de tanto forçá-la acabou
cedendo e destrancou. Abri a porta repentinamente e pude ver um homem
caído na soleira da porta do quarto de número 502, ao qual eu estava há uma
semana hospedado, desde que chegara da capital do país.
- Viu
alguém nos arredores do quarto? – perguntou o delegado.
- Corri
rapidamente meu olhar em torno do corredor comprido em que estávamos, porém não
constatei a presença de ninguém por ali. – respondeu o astuto detetive
aposentado.
- O que
fez ao ver homem? – indagou novamente o delegado.
-
Assustado, abaixei-me vagarosamente, toquei o homem com os dedos da minha mão
direita e pude perceber que o corpo ali estendido estava frio e rígido.
Enfim, estava diante do cadáver de um desconhecido.
- Por
gentileza, prossiga.
- Sem
exitar, corri junto ao telefone e disquei para o número da central de
polícia. De imediato o policial perguntou o endereço de onde eu falava e
que poderia encontrar o corpo do tal homem.
- Quais
os dados que informou “a priori” ao policial de plantão? – questionou o
delegado.
- Rua das
Flores, nº 24, centro da cidade, defronte ao quarto 502 do Hotel Flashback.
- Correto
e...?
- O
policial que atendeu minha ligação disse-me que dentro de cinco minutos
uma viatura iria ajudar-me, porém, após duas longas e árduas horas, um carro
todo cheio de barro nas rodas, com o farol queimado e pneus carecas chegou ao
local da ocorrência. – disse o detetive aposentado quase rindo.
- Sem
comentários desnecessários, por favor. – retrucou o delegado nervosinho.
- Durante
o tempo que fiquei sozinho com o defunto, aguardando impacientemente a chegada
da polícia, verifiquei que em um dos bolsos dianteiros da calça jeans, já
desbotada, um bilhete assinado e escrito por uma mulher chamada Terebentina. –
acrescentou Astolfo.
-
Terebentina? – perguntou o senhor Alfrosino.
- Sim.
Percebi que ela tinha conhecido este homem pela internet, num chat de
relacionamentos. O homem era um músico bastante conhecido no interior de
Goiás. A moça, ao conhecê-lo, espancou-o até à morte. Desfecho cruel de
um caso amoroso que mal tinha começado, afinal foi a primeira e única vez que
se encontraram pessoalmente.
- Santo
Deus, o senhor é bom detetive, hein? – disse Alfrosino.
-
Obrigado, mas sempre fiz o máximo para desvendar mistérios. – falou o
inesquecível detetive Astolfo.
- E tem
mais: a moça assassinou-o por ganância. Ela sabia que ele escondia alguns
dólares na sua peruca e que possuía alguns dentes de ouro na boca.
- Suas
informações foram valiosas, mas agora vou atrás da Terebentina para que ela
preste esclarecimentos sobre o ocorrido – agradeceu o delegado.
- Estarei
aqui caso precisar de ajuda. – falou Astolfo.
- Em
poucos minutos estarei interrogando a Terebentina e espero colher dados que a
moça possa me fornecer sobre tudo. - acrescentou o delegado.
- Olá,
dona Terebentina, preciso interrogá-la agora. – disse Alfrosino.
- Tudo
bem, meu querido, que posso servi-lo? – questionou de modo cínico a moça.
- Moça, por
gentileza, nome completo, idade e profissão?
-
Terebentina dos Passos Largos, 22 anos e sem profissão.
-
Endereço? – solicitou o delegado.
- Não
tenho endereço fixo, por isso matei o músico para poder me instalar numa cela
da delegacia aqui da cidade e poder ler romances policiais o dia todo, sem me
preocupar em trabalhar.
- Ok,
mocinha, obrigada pelas informações e, por favor, vista este uniforme que você
está detida em nome da lei. Vejo que agora posso dar o caso por
encerrado. Vou contratar Astolfo como detetive e a partir de hoje a moça
irá prestar serviços de limpeza na delegacia local, além de ficar presa por
longos anos. - disse o famoso delegado